Filhote de bugio ameaçado de extinção aparece acompanhado da mãe em mata na zona urbana e chama a atenção em Presidente Venceslau

Conforme o biólogo Helder Telles Stapait, que é especialista em gestão ambiental, a reprodução dos animais mostra a alta adaptabilidade da espécie naquele tipo de área. Filhote de bugio aparece acompanhado da mãe em Presidente Venceslau (SP)
Victor da Matta
A aparição de um filhote de bugio (Alouatta sp) acompanhado da mãe em um um fragmento de mata na região de um clube social na zona urbana tem chamado a atenção dos moradores de Presidente Venceslau (SP), já que se trata de uma espécie vulnerável ameaçada de extinção no Estado de São Paulo. Um biólogo especialista em gestão ambiental ouvido pelo g1 exaltou que a reprodução mostra a alta adaptabilidade da espécie naquela área.
O mototaxista Victor da Matta, que flagrou os animais, neste domingo (5), conversou com o g1 e disse que “essa foi a primeira vez que eles apareceram com um filhote”. A área, ainda de acordo com da Matta, fica próxima à Penitenciária 1 de Presidente Venceslau.
“As pessoas alimentam eles, muitos fazem caminhada ali e já levam frutas, deixam na árvore e muitas vezes pegam na mão [dos animais]”, adicionou.
Reprodução
Conforme o biólogo, especialista em gestão ambiental, professor e fotógrafo de natureza Helder Telles Stapait, o fato de estes animais estarem se reproduzindo mostra a “alta adaptabilidade da espécie nesta área (e região)”.
“É uma espécie que sofre muito com o avanço da urbanização, junto a grandes intervenções em áreas verdes, devido aos novos empreendimentos no município e proximidades. Mesmo com a compensação ambiental sendo executada, o tempo que a área compensada leva para ficar apropriada para abrigar a vida selvagem é longo demais, e acaba fazendo com que as espécies busquem abrigo e alimentos em outros locais que muitas vezes são áreas de borda com o perímetro altamente urbanizado, como é o caso destes bugios”, explicou ao g1.
“O registro desta mãe com filhote indica que existem outros indivíduos de mesma espécie que pertencem a este mesmo fragmento de área verde”, complementou.
Filhote de bugio aparece acompanhado da mãe em Presidente Venceslau (SP)
Victor da Matta
“A reprodução indica alta adaptabilidade e que a espécie está prosperando ali. Mesmo com as atividades humanas, esta espécie segue coexistindo. É necessário realizar um estudo de campo para averiguar se estão coexistindo bem ou se há algum fator que pode estar causando danos a estes macacos”, acrescentou.
Os bugios podem viver de 15 a 20 anos e a mãe pode carregar o filhote nas costas por até dois anos e, se a espécie está bem adaptada, é “perfeitamente comum que haja reprodução”.
“É necessário que haja as condições necessárias para sobrevivência destes animais. Tendo comida, água e abrigo, será comum encontrá-los. Sendo assim, a reprodução ocorrerá naturalmente entre os animais dos grupos existentes”, pontuou ao g1.
Filhote de bugio aparece acompanhado da mãe em Presidente Venceslau (SP)
Victor da Matta
O biólogo disse que ainda não havia visto um filhote da espécie no perímetro urbano, apenas em áreas verdes próximas à cidade.
“A espécie é recorrente no perímetro da cidade, faz parte da fauna do município. Esta constatação eu digo levando em consideração registros que eu mesmo fiz, não contendo qualquer consulta de inventário de fauna do município”, citou.
Ameaçada
A espécie, do gênero Alouatta, faz parte de uma família de primatas que está ameaçada no Estado de São Paulo devido a “grandes intervenções ambientais”, de acordo com o biólogo.
Parte do chamado Pontal do Paranapanema, que fica no extremo oeste do Estado de São Paulo, Presidente Venceslau conta com uma transição de Mata Atlântica para o Cerrado, e este é exatamente o bioma onde essa espécie está inserida.
Além de estarem mais perto da área urbana, estas visualizações estão mais frequentes. “Houve um aumento [de visualizações] proporcional ao avanço do perímetro urbano em Presidente Venceslau”, comentou ao g1.
Bugio adulto visto em Presidente Venceslau (SP)
Victor da Matta
Vulnerabilidade
Quando o homem avança com construções, indústrias e fábricas, novas áreas acabam exploradas. “Aqui na região do Pontal do Paranapanema, nós tivemos ao longo de muitos e muitos anos, mais especificamente nos últimos 40 anos, uma enorme exploração com muitos impactos ambientais gravíssimos”, ressaltou Stapait.
“O maior inimigo dessas espécies é a intervenção humana. É essa intervenção que está inviabilizando o sucesso dessa espécie, a permanência dessa espécie, a sobrevivência deles”, destacou.
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São os fatores ligados à interferência humana que podem ser um dos motivos do aumento desses registros, cada vez mais próximos da área urbana, segundo o biólogo.
“Conforme a cidade está crescendo, está aumentando a visualização de animais silvestres dentro do perímetro urbano, e ali naquele pedaço da mata próximo ao clube está sendo implantado um novo residencial”, comentou.
Spairat explicou que essa “invasão” no perímetro urbano pode ocorrer por duas situações: os animais estão ou em busca de proteção ou em busca de alimentos, pois o território deles está cada vez menor.
“Por mais que estudos e também atos de compensação ambiental estejam sendo executados, estes levam tempo para estarem preparados pra utilização ou moradia dessas espécies. Então, tem um problema sério aí com a compensação e a invasão desses animais em busca da comida e da proteção”, destacou Stapait ao g1.
Bugio adulto visto em Presidente Venceslau (SP)
Victor da Matta
Segundo o biólogo, a presença, do jeito como estão sendo visualizados, levanta um alerta, pois o ato de dar comida aos animais faz com que eles se acostumem com o “alimento fácil” e, segundo ele, “isso faz com que o macaco fique cada vez mais próximo das pessoas, facilitando a possibilidade de ocorrer um acidente”.
“Há dois anos eu mesmo filmei o bugio e verifiquei que ele estava já no chão, ao lado da pista de caminhada, esperando comida olhando a todos que passavam e algumas vezes fez gestos de alerta para algumas pessoas. O perigo ali era de o próprio macaco atacar alguém e, além do acidente direto, poderia ter outro agravante devido à pista de caminhada estar muito próximo da avenida”, relatou.
Bugio adulto visto em Presidente Venceslau (SP)
Victor da Matta
Orientações
Conforme o biólogo, a recomendação principal é “evitar completamente o contato com qualquer animal silvestre que venha a se aproximar das áreas mais urbanizadas”.
“Muito contato pode fazer com que o animal se acostume e crie de certa forma uma dependência dependendo do nível de interação com o mesmo (como o caso do bugio em questão)”, acrescentou.
Stapait reforçou que “é importante esses animais não estarem acostumados com as pessoas”.
Bugios são vistos com frequência em área verde em Presidente Venceslau (SP)
Sabrina Paulino Soriano Estrella de Oliveira
“Eles devem retornar para os fragmentos para sobreviverem com os recursos que eles têm lá e não se acostumarem com as pessoas, porque daqui a pouco eles vão descer dos galhos, vão atravessar as ruas, eles podem ser atropelados, tendo em vista que são animais ameaçados de extinção também, podem causar acidentes de trânsito, podem entrar nas casas, ali tem muitas casas do outro lado da rua, podem causar acidentes domésticos, então não pode haver interação dos animais com essas pessoas”, frisou ao g1.
O biólogo citou que é extremamente importante que haja um trabalho de educação ambiental para que as pessoas “não sintam medo ao ter contato com estes animais”.
“Existem diversos animais que são abatidos por puro medo ou preconceito (como ocorre com praticamente todas as serpentes adentram o perímetro urbano – sendo muitas delas controladoras de pragas urbanas, como as jiboias, por exemplo)”, contou.
Bugios são vistos com frequência em área verde em Presidente Venceslau (SP)
Sabrina Paulino Soriano Estrella de Oliveira
Com o avanço da urbanização e da intervenção em áreas verdes, sem o tempo de compensação ambiental necessário, o contato com animais silvestres “deverá ser cada vez mais comum”.
Em caso de “receber uma visita” destes animais, o especialista alertou que “é fundamental acionar a Polícia Militar Ambiental imediatamente, para que o colete e faça a sua soltura em seu hábitat novamente”.
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