Os filmes de “Meu Malvado Favorito” ainda têm história para contar? A pergunta soa besta, com a série chegando essa semana ao quarto capítulo e mais dois derivados na bagagem —ambos dedicados aos minions. Mas a questão vira um agouro na nova continuação, em uma história que dá passos confusos com o protagonista Gru.
Para início de conversa, a premissa é das mais mirabolantes. Gru volta ao seu antigo colégio, um instituto de vilania, para capturar um colega de classe durante um encontro de ex-alunos. Ele completa o objetivo, mas o adversário escapa e quer vingança. Assim, o protagonista e a sua família entram para um programa de proteção da agência em que ele trabalha e, de uma hora para outra, assumem novas identidades.
Tudo isso acontece em menos de 20 minutos e, nesse tempo, o filme já passou por pelo menos três tons diferentes —o que cansa um pouco. O início, por exemplo, remete a James Bond, antecipando a chegada de Gru ao evento em cenas que destacam a viagem do seu carrão pela estrada montanhosa.
Em seguida, a continuação vira uma comédia adolescente, com o embate dos vilões —cheios de poderes e armas tecnológicas— na esteira de uma premiação. O prólogo só termina na casa de Gru, quando ele chega para o café da manhã e o filme apresenta ao público Gru Jr., seu filho recém-nascido. A cena toda transcorre como um comercial de margarina para crianças pequenas.
Até aí nada de novo para os filmes, com exceção talvez do rebento. Desde o primeiro “Minions“, de 2015, “Meu Malvado Favorito” existe a serviço da hiperatividade e adota comédias de ritmo acelerado. A evolução da história se confunde com a sucessão de piadas, que buscam novidades para atirar na tela.
Dessa vez, a grande promessa são os megaminions. Eles são cinco indivíduos da tropa de comparsas amarelos de Gru, que ganham poderes de uma máquina da agência antivilões para combater o crime. Por serem minions, o plano dá errado, e eles mais alimentam o caos que salvam o dia.
Mas o filme demora para chegar nos megaminions, até porque eles são uma das quatro tramas da continuação. Além deles, o público acompanha Gru, que precisa cometer um roubo com uma garota para proteger a sua identidade; a família do protagonista, que tenta conviver com as novas vidas; e do vilão, Maxime Le Mal, em seus esforços de vingança.
O desafio de “Meu Malvado Favorito 4” está no equilíbrio frágil desse malabarismo estranho. Nada se conecta direito e o desfecho inventa um clímax preguiçoso nas novas responsabilidades de Gru como pai. Enquanto o conflito final com Maxime não acontece, o longa inventa cenários e acha comédia na bagunça —quase sempre pelos minions.
Ou seja, a continuação cumpre com a rotina pré-estabelecida e aperfeiçoada nos outros filmes da série. Desta vez, a execução pelo menos é um pouco melhor que a de “Meu Malvado Favorito 3“, graças a uma ou outra cena de humor paspalhão.
Algumas das piadas recorrentes também mantêm a história no eixo e a impedem de se perder em episódios distantes, como no terceiro capítulo. Um dos minions fica preso em uma máquina de salgadinhos, por exemplo, e o filme acha formas de rir do seu isolamento no aparelho.
Mas “Meu Malvado Favorito 4” ainda sofre com a falta de propósito, um problema com raiz na contradição dos personagens com o sucesso da série. Em entrevistas, o diretor do filme, Chris Renaud, disse que a produção estabelece de vez que os personagens não envelhecem.
Ele comparou a decisão com a de “Os Simpsons” e, como na série criada por Matt Groening, a jogada tem gosto de raciocínio de marketing. Além de ajudar a vender produtos para a criançada, suspender o crescimento dos personagens também interrompe a sua evolução na história.
O que é uma péssima ideia para a família de Gru, que até o quarto capítulo ainda mantinha essa progressão em vista. Desde o original de 2010, o protagonista deixou de ser vilão, adotou três filhas, se casou, virou agente secreto, foi demitido, passou por crises e até mesmo descobriu um irmão gêmeo e rico. Até a sua origem foi contada no segundo “Minions”.
Em “Meu Malvado Favorito 4”, porém, Gru segue a mesma pessoa. A sua família também —as crianças não crescem um centímetro. O filme inventa um drama com Gru Jr., que faz cara feia para o pai, mas isso é insuficiente.
Depois de achar conforto com a rotina, a série agora tem o desafio de evitar o conformismo com os seus personagens. O quarto capítulo implora por isso, mas fica a ver navios. A falta de tensão pode aborrecer os pequenos, mesmo com tanta coisa acontecendo na tela.