A Equatorial, empresa interessada em virar acionista de referência com a privatização da Sabesp, divulgou nesta terça-feira (2) uma apresentação a investidores em que dá pistas sobre possíveis estratégias para a companhia de saneamento.
Entre os direcionamentos para um futuro plano de eficiência, a apresentação cita redefinir a relação com sindicatos, otimizar benefícios e políticas de remuneração e implementar a “cultura de dono”, com alinhamento de incentivos por performance.
No documento, a Equatorial também menciona, como formas de otimizar custos operacionais, programas de demissão voluntária, reestruturação de times e estabelecimento de uma cultura voltada a resultados.
Novata no setor de saneamento, a Equatorial foi a única interessada em se tornar acionista de referência da Sabesp —uma espécie de sócio estratégico do Governo de São Paulo no negócio, que terá 15% do capital da companhia, além de peso relevante na administração.
Como acionista, a Equatorial terá direito a indicar o CEO da Sabesp, o presidente do conselho de administração e três membros.
O grupo, que tem entre seus principais acionistas o Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, tem histórico de atuação em energia e adquiriu sua primeira concessão de água e esgoto em 2021, no Amapá.
Apesar da pouca experiência no setor, a Equatorial tem boa avaliação entre investidores e foi considerada a “favorita do mercado” quando nomes de potenciais sócios de referência começaram a ser ventilados. A percepção é de que o grupo tem governança sólida, é habilidoso em aumentar a eficiência de suas operações e consegue captar recursos com menor custo.
Na apresentação a investidores divulgada nesta terça, a Equatorial também menciona o potencial para otimizar a estrutura de capital da Sabesp, aumentando a distribuição aos acionistas.
O grupo cita como uma das principais “alavancas de valor” a exploração de novas estruturas de capital para aumentar o retorno dos investidores.
Um dos gráficos que ilustram a apresentação mostra que a atual alavancagem da Sabesp (proporção da dívida em relação ao resultado operacional) está baixa.
Na avaliação de Bernardo Viero, analista que cobre os setores de energia elétrica e saneamento na Suno Research, isso indica que a nova gestão deve visar um aumento nos dividendos para equalizar esse fator em um patamar ainda seguro do ponto de vista do endividamento.
O documento da Equatorial traz ainda o histórico de suas operações para indicar iniciativas capazes de otimizar custos na Sabesp. A companhia cita, por exemplo, o que chama de “alta adesão” aos programas de demissão voluntária (PDV) nas operações do Pará, Piauí e Alagoas.
Na mesma página, um gráfico mostra que a Sabesp fica atrás de suas concorrentes em critérios como eficiência operacional e despesas com empregados.
Segundo Viero, como o processo de privatização não foi concluído, a Equatorial ainda não pode entregar sua estratégia em grandes detalhes. No entanto, ele avalia que a apresentação indica um direcionamento, ainda que não de forma oficial.
“Os dados nos mostram que, mesmo com a empresa lucrativa, ainda podem ser proporcionadas economias na linha de despesas com pessoas, semelhantemente ao que estamos observando nas evoluções da Eletrobras e Copel recém-privatizadas”, diz. “Há espaço e muita chance de um novo PDV ser lançado após a oferta”, acrescenta.
Em outra seção do documento divulgado nesta terça, intitulada “a oportunidade Sabesp”, a Equatorial classifica a companhia como uma das maiores plataformas de saneamento do mundo e a segunda maior empresa do planeta.
O objetivo, segundo a apresentação, é usar a Sabesp como veículo exclusivo de crescimento na área. Só nesta privatização a Equatorial diz ter dedicado 15 times internos ao estudo do projeto, além de assessores externos.
FINANCIAMENTO APROVADO
A Equatorial também indica no documento que já tem financiamento garantido para bancar sua proposta pelos 15% da Sabesp.
O grupo ofertou R$ 67 por ação, o que significa um desembolso total na casa dos R$ 6,9 bilhões.
Nesta terça, uma pessoa diretamente envolvida no processo de privatização da Sabesp disse que a demanda dos investidores comuns pelas ações da companhia já está na casa dos R$ 30 bilhões.
Colaborou Stéfanie Rigamonti