Courtland Cox tinha 22 anos quando esteve ao lado dos ativistas Bayard Rustin e John Lewis, líderes do movimento por direitos civis nos Estados Unidos, na histórica Marcha sobre Washington de 1963, acompanhado por milhares de outros americanos negros.
A marcha é considerada um divisor de águas para a implementação de direitos sociais nos EUA, abrindo caminho para a Lei dos Direitos Civis, assinada há 60 anos.
Naquela época ainda estava em vigor as leis de Jim Crow, que impunham segregação racial no sul do país. Os ativistas das décadas de 1950 e 1960 reagiram com uma série de manifestações pacíficas, incluindo a Marcha sobre Washington, liderada por Martin Luther King.
Os atos chamaram a atenção do público para a situação difícil dos cidadãos negros e abriram caminho para leis históricas, incluindo a Lei dos Direitos Civis, assinada em 2 de julho de 1964 pelo então presidente Lyndon B. Johnson.
Cox, hoje com 83 anos, afirma que a luta atualmente é tão urgente quanto décadas atrás. “Temos uma batalha contínua que vem ocorrendo há 80 anos”, diz ele.
Décadas após a aprovação do projeto de lei, alguns dos principais líderes e organizações de direitos civis do país afirmam que muitas das promessas continuam distantes, especialmente após uma série de retrocessos nos últimos anos.
Os ativistas afirmam que decisões judiciais recentes tiveram efeitos negativos sobre os cidadãos negros, incluindo as da Suprema Corte que suspenderam o direito constitucional ao aborto e que tornaram mais difícil provar a discriminação racial na administração das eleições.
Os eleitores ainda se dizem frustrados com a inflação e com a falta de progresso nas prioridades de justiça racial. “Estamos pisando em águas muito perigosas”, disse Martin Luther King 3º, filho mais velho do líder ativista assassinado em 1968. “Nossa tarefa é fazer com que a maioria das pessoas se engaje. […] Temos de encontrar maneiras de fazer com que essas pessoas saiam de suas casas no dia da eleição.”
No aniversário da Lei dos Direitos Civis, persiste o sentimento de que as vitórias legislativas históricas dos direitos civis dos negros estão sob ameaça. “Os últimos oito anos nos ensinaram que todas as coisas que pensávamos estar codificadas em lei podem ser desfeitas”, disse Leah Wright Rigueur, professora de história da Universidade Johns Hopkins.
Os americanos negros votaram em Biden na proporção de 9 para 1 em 2020. Esse grupo tem favorecido os candidatos democratas nas eleições presidenciais desde a era dos direitos civis.
Mas o recente apoio desses eleitores ao atual presidente diminuiu em parte porque alguns se sentem desiludidos com o progresso considerado lento.
Cox enaltece a influência política que os negros americanos conquistaram desde a época em que ele se juntou ao movimento pelos direitos civis. Aos 19 anos, ele se juntou à causa motivado pelo assassinato de Emmett Till alguns anos antes.
Till, 14, foi sequestrado e assassinado no Mississippi por dois homens brancos, que acabaram absolvidos.
Cox continua engajado no ativismo —atualmente ele colabora com o grupo de direitos civis NAACP para recrutar 300 mil voluntários em esforços de votação direcionados às comunidades negras.
A National Urban League (Liga Nacional Urbana, em português), outra organização de direitos civis nos EUA, está lutando contra o que considera táticas de supressão de eleitores com alvo racial, como leis rígidas de identificação e fechamento de urnas em bairros com moradores predominantemente negros.
“Às vezes, consideramos a democracia um fato adquirido porque nunca vivemos sem ela, então nos desligamos dessa dura realidade”, disse o CEO da National Urban League, Marc Morial.
Enquanto isso, a próxima geração de ativistas e líderes políticos espera usar o que aprendeu com as gerações anteriores, caso de Blaise Adams, recém-formado pela Tougaloo College. A faculdade do Mississippi esteve na vanguarda do movimento pelos direitos civis, servindo como ponto de encontro de ativistas famosos como King, Medgar Evers e Fannie Lou Hamer.
“Uma das coisas que aprendemos com aquela época é o poder da voz coletiva”, disse Adams, 34. “Nossos antepassados lutaram por esse direito. Pessoas que foram mortas nas ruas, atacadas e tudo o mais, para que pudéssemos simplesmente ir votar.”