IPCA-15: preços sobem 0,39% em junho, puxados por alimentação


O resultado da prévia da inflação veio abaixo das expectativas do mercado financeiro, mas núcleo de serviços gera preocupação. Batata inglesa foi o produto que mais aumentou entre os alimentos
Reprodução/TV Rio Sul
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) — considerado a prévia da inflação oficial do país — registrou uma alta de 0,39% nos preços em junho, informou nesta quarta-feira (26) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado representa uma desaceleração de 0,05 p.p. em relação a maio, que fechou em 0,44%. Em junho de 2023, o índice foi de 0,04%.
Desta vez, o índice foi puxado principalmente pela alta de 0,98% no grupo de Alimentação e bebidas, com um impacto de 0,21 ponto percentual (p.p.) no indicador.
Alimentos comuns na mesa do brasileiro contribuíram para a alta, com destaque para a batata inglesa, que disparou 24,18%, o leite longa vida, que subiu 8,84%, o tomate, 6,32%, e o arroz, 4,20%.
A tendência foi vista também no resultado da inflação oficial do mês passado, o IPCA registrou alta de 0,46% nos preços, refletindo um aumento dos valores de alimentos depois de efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul.
Assim, o IPCA-15 acumulou uma alta de 4,06% em 12 meses, acima dos 3,70% observados anteriormente. No ano, a alta é de 2,52%.
A prévia da inflação veio abaixo das expectativas do mercado financeiro, que esperava uma alta de 0,45% em junho, mas a alta em preços de alimentos e de núcleo de serviços gerando reação negativa de investidores.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, sete apresentaram alta nos preços em junho. Além de Alimentação e bebidas, destaque também para os grupos de Habitação e Saúde e cuidados pessoais, que avançaram 0,63% e 0,57%, respectivamente.
Veja abaixo a variação dos grupos em maio
Alimentação e bebidas: 0,98%;
Habitação: 0,63%;
Artigos de residência: -0,01%;
Vestuário: 0,30%;
Transportes: -0,23%;
Saúde e cuidados pessoais: 0,57%;
Despesas pessoais: 0,25%;
Educação: 0,05%;
Comunicação: 0,18%.

Preços dos alimentos em alta
O grupo de Alimentação e bebidas foi o que apresentou a maior alta e o maior impacto no IPCA-15 de junho. O grande responsável foi o subgrupo de Alimentação no domicílio, que avançou de 0,22% em maio para 1,13% em junho, com a disparada nos preços de itens populares, como a batata.
Alguns produtos, porém, apresentaram queda nos preços. O IBGE destaca o feijão carioca, com baixa de 4,69%, a cebola, com queda de 2,52%, e as frutas, que tiveram preços, em média, 2,28% menores.
A Alimentação fora do domicílio também acelerou, passando de 0,37% para 0,59%. Dentro do subgrupo, tanto os preços do lanche (que passou de 0,47% em maio para 0,80% em junho) quanto da refeição (0,34% para 0,51%) subiram.
IPCA-15 de junho fica em 0,39%
Outros destaques
O grupo de Habitação teve um impacto de 0,10 p.p. no IPCA-15, influenciado pelas altas nos preços da taxa de água e esgoto — que subiram, em média, 2,29%, seguindo reajustes tarifários em São Paulo, Brasília e Curitiba.
Também contribuiu o reajuste da energia elétrica residencial, que subiu, em média, 0,79%, com novos preços em Salvador, Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.
O grupo Saúde e cuidados pessoais também registrou alta forte, com um impacto de 0,08 p.p. no índice. O avanço foi puxado pela alta média de 0,37% nos preços dos planos de saúde, após a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizar reajustes de até 6,91%.
Os únicos grupos a apresentarem quedas no mês de junho foram Artigos de residência e Transportes. No primeiro destes grupos, a queda foi residual, de apenas 0,01%.
Já em Transportes, a queda de 0,23% nos preços resultou em um impacto de -0,05% p.p. no índice. Tanto as passagens aéreas quanto os combustíveis apresentaram reduções nos preços no mês:
Passagem aérea: -9,87%;
Etanol: -0,80%;
Gás veicular: -0,46%;
Óleo diesel: -0,42%;
Gasolina: -0,13%.
Núcleo de serviços preocupa
Além da alta nos preços dos alimentos, que veio além do que o mercado esperava, a dinâmica dos serviços gerou preocupação nos analistas do mercado financeiro. Em consequência, o dólar avançou forte no pregão desta quarta-feira, rompendo a barreira dos R$ 5,50.
“Foi um resultado com qualitativo não muito bom, pois os preços de serviços subjacentes — que importam bastante à condução da política monetária — se aceleraram para níveis acima do esperado [0,31% para 0,40%]”, diz Maykon Douglas, economista da Highpar.
“Os preços se desaceleraram quando se anualiza as variações mais recentes, ou seja, variam um pouco menos do que vimos no início do ano. No entanto, o qualitativo recente da inflação segue exigindo atenção, uma vez que o mercado de trabalho continua aquecido e surpreendendo para cima.”
Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, a leitura geral é de uma inflação “salgada” em um momento que o dólar ganha força mesmo contra moedas de países desenvolvidos.
“A expectativa para esse ano já está quase em 4%. O BC vai ter uma vida difícil para controlar a inflação nos próximos meses, dado que a economia está mais aquecida, o mercado de trabalho está mais apertado e o câmbio está mais desvalorizado. […] Um câmbio de R$ 5,50 é muito mais inflacionário que um câmbio de R$ 5”, diz.

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