Dólar sobe e fecha em R$ 5,51, no maior patamar em mais de dois anos, após novas falas de Lula


A moeda norte-americana teve alta de 1,20%, cotada em R$ 5,5188, no maior nível desde janeiro de 2022. Já o principal índice acionário da bolsa encerrou em alta de 0,25%, aos 122.641 pontos. Notas de dólar
Gary Cameron/Reuters
O dólar fechou em alta nesta quarta-feira (25), dia em que o mercado analisou os novos dados da prévia da inflação brasileira. O avanço de preços foi de 0,39% em junho, abaixo das expectativas do mercado financeiro, mas com aumento em preços de alimentos e núcleo de serviços preocupante.
Também repercutiu uma entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que ele volta a criticar a decisão de juros do Banco Central do Brasil (BC) e relativiza a necessidade de cortar gastos.
Na véspera, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou que os membros vão adotar um discurso mais cauteloso sobre a condução da taxa básica de juros, a Selic, em meio às incertezas sobre a inflação e a economia global. (saiba mais abaixo)
Além disso, o cenário no exterior segue incerto, em especial após uma declaração de uma diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que também reiterou que os juros americanos devem permanecer altos por mais tempo. O mercado espera dados de inflação americana na sexta-feira para reafirmar essa posição.
Neste cenário, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores, começou o dia em queda, mas inverteu o sinal e fechou em alta.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Ao final da sessão, o dólar subiu 1,20%, cotado a R$ 5,5188. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,5258. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 1,43% na semana;
ganho de 5,14% no mês;
alta de 13,73% no ano.
No dia anterior, a moeda norte-americana avançou 1,16%, cotado a R$ 5,4534.

Ibovespa
Já o Ibovespa encerrou em alta de 0,25%, aos 122.641 pontos.
Na véspera, o índice fechou em queda de 0,25%, aos 122.331 pontos.
Com o resultado, acumulou:
alta de 1,07% na semana;
ganhos de 0,44% no mês;
perdas de 8,60% no ano.

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O que está mexendo com os mercados?
A principal notícia desta quarta-feira ficou com o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) — considerado a prévia da inflação oficial do país, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A prévia da inflação registrou uma alta de 0,39% nos preços de junho. A expectativa do mercado financeiro era de que o IPCA-15 tivesse uma alta de 0,45% em junho.
O índice foi puxado principalmente pela alta de 0,98% no grupo de Alimentação e bebidas, com um impacto de 0,21 ponto percentual (p.p.) no indicador.
“O grupo alimentação no domicílio é o mais afetado pelas enchentes do RS, nele observamos a elevação de itens in natura e leite”, diz Leonardo Costa, economista do ASA.
No mês passado, em maio, o indicador registrou um avanço de 0,44%, uma aceleração de 0,23 pontos percentuais (p.p.) em relação a abril, quando teve alta de 0,21%.
Em 12 meses, porém, o IPCA-15 acumulou uma ata de 4,06% até junho, acima dos 3,70% observados nos 12 meses anteriores.
“Foi um resultado com qualitativo não muito bom, pois os preços de serviços subjacentes — que importam bastante à condução da política monetária — se aceleraram para níveis acima do esperado [0,31% para 0,40%]”, diz Maykon Douglas, economista da Highpar.
“Os preços se desaceleraram quando se anualiza as variações mais recentes, ou seja, variam um pouco menos do que vimos no início do ano. No entanto, o qualitativo recente da inflação segue exigindo atenção, uma vez que o mercado de trabalho continua aquecido e surpreendendo para cima.”
Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, a leitura geral é de uma inflação “salgada” em um momento que o dólar ganha força mesmo contra moedas de países desenvolvidos.
“A expectativa para esse ano já está quase em 4%. O BC vai ter uma vida difícil para controlar a inflação nos próximos meses, dado que a economia está mais aquecida, o mercado de trabalho está mais apertado e o câmbio está mais desvalorizado. […] Um câmbio de R$ 5,50 é muito mais inflacionário que um câmbio de R$ 5”, diz.
Ainda durante a manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a condução dos juros por parte do Banco Central (BC) em entrevista ao portal “Uol”. Esse é um tema sensível para o mercado, que aguarda saber quem será o sucessor de Roberto Campos Neto na cadeira da presidente da instituição no ano que vem.
Sobre Gabriel Galípolo, diretor do BC indicado por seu governo e um dos mais cotados para a posição, Lula disse que “é um companheiro altamente preparado, conhece sistema financeiro. Mas ainda não estou pensando na questão do Banco Central.”
“Eu não indico presidente do Banco Central para o mercado. Ele vai ter que tomar conta dos interesses do Brasil. Mercado tem que se adaptar a isso”, argumentou Lula.
Lula também comentou as contas públicas, e disse que o governo está fazendo uma análise dos cortes de gastos que podem ajudar a equilibrar as contas.
“O gasto está sendo bem feito? O dinheiro está sendo utilizado para alguma coisa que vai melhorar o futuro deste país? Eu acho que está. Nós estamos agora fazendo uma análise aonde é que tem gasto exagerado, aonde é que tem gasto que não deveria ter, aonde é que tem pessoas que não deveriam receber e que estão recebendo. Isso com muita tranquilidade, sem levar em conta o nervosismo do mercado. Levando em conta a necessidade de manter política de investimento”, disse o presidente.
Segundo Lula, o problema não é cortar, mas ter um panorama claro do que fazer.
“O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se a gente precisa aumentar a arrecadação”, emendou Lula.
Ainda sobre corte de gastos, Lula disse garantir que não tomará medidas que mexam em salário mínimo e em benefícios sociais — por exemplo, desobrigando a correção desses valores pela inflação do período. “Garanto, salário mínimo não será mexido enquanto eu for presidente da República”, disse.
Na terça-feira, um dos fatores de piora do câmbio foi divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Após sete reduções seguidas na taxa Selic o colegiado decidiu fazer uma pausa no ciclo de cortes e manter os juros em 10,50% ao ano.
A decisão veio em linha com as atuais expectativas do mercado, mas ainda representa uma previsão maior de juros para 2024 em relação ao observado no começo do ano, além de indicativos de que os riscos que o BC leva em conta para mexer na Selic estão mais preocupantes.
O comitê informou, no documento, que o controle das estimativas de inflação, que estão em alta, requer uma “atuação firme” da autoridade monetária, e acrescentou que se manterá “vigilante”. Além disso, avaliou que “eventuais ajustes futuros” na taxa de juros, com possíveis aumentos na Selic, “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Lula voltou a criticar a decisão, reforçando no mercado as dúvidas sobre o futuro dos juros no país. “O Banco Central tem necessidade de manter a taxa de 10,50% quando a inflação está a 4%? Não é culpa sequer do BC, é culpa da estrutura que foi criada. BC vai ter plano de meta de crescimento? A gente vai avançar para isso”.
“Continuo criticando a taxa. Acho que não deveria ser o presidente que criticasse, mas é preciso que empresários do setor produtivo, CNI [Confederação Nacional da Indústria], Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], ao invés de reclamar do governo deveriam fazer passeata contra taxa de juros”, completou.
No fim do dia, o mercado também fica de olho na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que deve discutir as metas de inflação. O governo decidiu manter a meta de inflação em 3% para os próximos anos, mas decidiu pela mudança no sistema.
O sistema era o chamado “ano-calendário”, que analisa a inflação de janeiro até dezembro. Foi decidido que vai virar um sistema de “meta contínua”, em que vai se analisando continuamente se a meta está dentro do que foi definido, se a inflação está dentro da meta definida.
Como explica o blog do Valdo Cruz, a alteração será de um período “janeiro a dezembro” para um prazo de dois a três anos. O BC teria mais tempo para levar a inflação para o centro da meta, evitando uma política mais rígida para ancorar a expectativa de inflação.
O Banco Central já mira uma inflação além do ano-calendário. A interrupção na queda de juros já teve o objetivo de evitar essa desancoragem da inflação principalmente em 2025.
Ontem, outro ponto que deu força ao dólar e continua a repercutir foi a declaração da diretora do Federal Reserve Michelle Bowman, que reiterou sua opinião de que manter a taxa de juros dos Estados Unidos estável “por algum tempo” provavelmente será suficiente para deixar a inflação sob controle.
Juros mais altos nos Estados Unidos tornam os emergentes menos atrativos, o que inclui o Brasil. Assim, os investidores levam investimentos para economias desenvolvidas e o real tende a se desvalorizar ainda mais.
“A inflação nos EUA continua elevada, e ainda vejo vários riscos de aumento da inflação que afetam minha perspectiva”, disse Bowman em comentários preparados para uma apresentação em Londres.
Bowman disse ainda que conflitos regionais podem pressionar para cima os preços da energia e dos alimentos, e condições financeiras mais frouxas ou estímulos fiscais também podem estimular a inflação.
“Se os dados que estão chegando indicarem que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção à nossa meta de 2%, será apropriado em algum momento reduzir gradualmente a taxa de juros para evitar que a política monetária se torne excessivamente restritiva”, disse ela.
Entretanto, Bowman destacou que a economia “ainda” não chegou a esse ponto, acrescentando que “permanecerá cautelosa” em sua abordagem da política monetária e previu que os bancos centrais de outros países poderão afrouxar mais cedo ou mais rapidamente do que o Fed.
Os investidores estarão atentos à divulgação na sexta-feira de números do índice PCE de maio, o indicador de inflação preferido do Federal Reserve, para reiterar a posição de Bowman. Analistas projetam estabilidade, ante alta de 0,3% em abril.

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