Dólar dispara mais uma vez, e tem alta de 15% no 1º semestre de 2024; Ibovespa cai


Moeda americana fechou o último pregão de junho cotado a R$ 5,5884 — maior valor desde janeiro de 2022 —, após Lula dizer que juros vão ‘melhorar’ quando indicar presidente do BC. Mulher segura notas de dólar, dinheiro
Karolina Grabowska/Pexels
O dólar fechou em alta nesta sexta-feira (28), encerrando o primeiro semestre de 2024 com valorização de mais de 15%. Cotado a R$ 5,5884, a moeda americana chegou ao maior patamar desde 10 de janeiro de 2022 (R$ 5,6742).
O câmbio teve um novo dia ruim após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar a criticar o Banco Central do Brasil (BC). Em entrevista à rádio O Tempo, Lula disse que o patamar de juros no Brasil “vai melhorar” quando ele indicar o próximo presidente do BC.
Luan Aral, especialista em câmbio da Genial Investimentos, afirma que isso traz receio ao mercado, que entende a fala como uma sinalização de que o novo presidente vai promover quedas forçadas na taxa básica de juros, a Selic.
Ainda no cenário doméstico, o BC divulgou um resultado negativo para as contas do setor público consolidado de maio, com o déficit primário subindo para R$ 63,9 bilhões.
Além disso, o mercado repercute a divulgação do índice PCE no país, o indicador de inflação favorito do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e que dá dicas sobre o rumo dos juros por lá. O número recuou ligeiramente em maio para 2,6% interanual, conforme esperado pelo mercado.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
O dólar teve alta de 1,46%, cotado a R$ 5,5884. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,5982. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 2,71% na semana;
ganho de 6,46% no mês;
alta de 15,17% no ano.
No dia anterior, a moeda norte-americana caiu 0,20%, cotado a R$ 5,5079.

Ibovespa
O Ibovespa teve queda de 0,32%, aos 123.907 pontos.
Com o resultado, acumulou:
alta de 2,11% na semana;
ganhos de 1,48% no mês;
perdas de 7,66% no ano.
Na véspera, o índice fechou em alta de 1,36%, aos 124.308 pontos.

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“Em meio a novos ataques do presidente Lula ao Banco Central, ao denominar a Selic em 10,5% como ‘irreal’, e dizer que a taxa de juros deve melhorar com o novo presidente do BC, o câmbio reage à maior percepção de risco, e receio de politização na conduta da política monetária”, explica José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos.
Além disso, a divulgação do resultado consolidado do setor público revelou um déficit superior às projeções. “O que se vê é uma trajetória de crescimento da dívida que preocupa, ao mesmo tempo em que carece a urgência de ajustes fiscais. A piora da percepção de risco fiscal e institucional é transferida diretamente para o câmbio, sendo o principal motor da alta”, diz Alfaix.
Também hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a taxa de desemprego no Brasil foi de 7,1% no trimestre encerrado em maio, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.
Com os resultados, o número absoluto de desocupados teve queda de 8,8% contra o trimestre anterior, atingindo 7,8 milhões de pessoas. Na comparação anual, o recuo é de 13%.
Nesta semana, não foi a primeira vez que as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) repercutiram nos mercados. Ontem, o presidente criticou as perspectivas de investidores e do mercado financeiro sobre uma aposta no enfraquecimento do real e em uma piora da economia brasileira.
“Quem estiver apostando em derivativo vai perder dinheiro nesse país. As pessoas não podem ficar apostando no fortalecimento do dólar e no enfraquecimento do real”, declarou.
“Eu já vi isso em 2008. Quem não lembra a quantidade de empresa que quebrou? Quem não lembra o que aconteceu com a Sadia, a Aracruz? As pessoas achavam que era importante ganhar dinheiro apostando no fortalecimento do dólar e quebraram a cara. E vão quebrar outra vez”, seguiu Lula.
Também nesta semana, Lula já havia criticado a condução dos juros por parte do Banco Central (BC) em entrevista ao portal “Uol”. Novamente, o foco de investidores foi em saber quem será o sucessor de Roberto Campos Neto na cadeira da presidente da instituição no ano que vem.
Sobre Gabriel Galípolo, diretor do BC indicado por seu governo e um dos mais cotados para a posição, Lula disse que “é um companheiro altamente preparado, conhece sistema financeiro. Mas ainda não estou pensando na questão do Banco Central.”
“Eu não indico presidente do Banco Central para o mercado. Ele vai ter que tomar conta dos interesses do Brasil. Mercado tem que se adaptar a isso”, argumentou Lula.
O presidente também abordou as contas públicas, e disse que o governo está fazendo uma análise dos cortes de gastos que podem ajudar a equilibrar as contas.
Lula disse garantir que não tomará medidas que mexam em salário mínimo e em benefícios sociais — por exemplo, desobrigando a correção desses valores pela inflação do período. “Garanto, salário mínimo não será mexido enquanto eu for presidente da República”, disse.
Na quinta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que não vê motivos, neste momento, para que a autoridade monetária atue para tentar conter a alta do dólar e evitar o chamado “contágio inflacionário” que a disparada da moeda norte-americana pode causar.
O entendimento de economistas é de que o dólar alto tende a pressionar a inflação no Brasil, pois os produtos importados ficam mais caros, e isso normalmente é repassado aos consumidores.
Campos Neto explicou que o Banco Central acredita no princípio da separação entre a definição da taxa de juros, que busca conter a inflação, e as chamadas “medidas macroprudenciais”, ou seja, voltadas ao bom funcionamento dos mercados — que é o caso de eventuais atuações cambiais.
“O câmbio é flutuante [a cotação varia de acordo com a demanda e a oferta pela moeda] e intervenção tem de ser por conta de disfuncionalidade pontual [como a ausência de moeda, em um momento em que as instituições a procuram]. Não fazemos intervenção visando algum tipo de nível [da taxa de câmbio]”, afirmou Campos Neto.
Em entrevista ao jornal “Valor Econômico” publicada nesta sexta, Campos Neto avaliou que as críticas de Lula ao Banco Central “atrapalham o controle da inflação”.
“Quando você tem uma pessoa da importância do presidente questionando aspectos técnicos da decisão do Banco Central, gera um prêmio de risco na frente. […] Essa incerteza maior acaba fazendo com que o nosso trabalho fique mais difícil”, disse.
Mercado externo
Nesta sexta-feira, os investidores repercutem novos dados de inflação no país. O índice PCE avançou 0,1% em maio, acumulando alta de 2,6% em um ano, dentro das expectativas do mercado e representando uma leve desaceleração em relação ao mês anterior.
Na véspera, o destaque ficou com o número de pedidos de seguro-desemprego no país. As solicitações recuaram em 6 mil na semana encerrada em 22 de junho, chegando a 233 mil, informou o Departamento do Trabalho norte-americano.
Economistas estão divididos sobre o significado dos resultados: alguns interpretam que os números indicam alta nas demissões, enquanto outros acreditam que se trata de uma repetição da volatilidade observada no mesmo período do ano passado.
Os pedidos de seguro-desemprego são importantes porque indicam sinais sobre a atividade econômica. Os dados podem ser vistos como indícios do aquecimento ou não da economia e, por isso, estão no radar do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
A taxa básica de juros norte-americana está em seu maior patamar desde 2001, na faixa de 5,25% e 5,50% ano. O objetivo do Fed com a taxa elevada é reduzir a inflação do país para perto de 2%, a meta da autoridade monetária.
Juros mais altos nos Estados Unidos tornam os emergentes, como o Brasil, menos atrativos — impactando no real. Assim, os investidores levam investimentos para economias desenvolvidas e o real tende a se desvalorizar ainda mais.

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