Meu Malvado Favorito 4 evidencia cansaço da franquia – 03/07/2024 – Ilustrada

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Os filmes de “Meu Malvado Favorito” ainda têm história para contar? A pergunta soa besta, com a série chegando essa semana ao quarto capítulo e mais dois derivados na bagagem —ambos dedicados aos minions. Mas a questão vira um agouro na nova continuação, em uma história que dá passos confusos com o protagonista Gru.

Para início de conversa, a premissa é das mais mirabolantes. Gru volta ao seu antigo colégio, um instituto de vilania, para capturar um colega de classe durante um encontro de ex-alunos. Ele completa o objetivo, mas o adversário escapa e quer vingança. Assim, o protagonista e a sua família entram para um programa de proteção da agência em que ele trabalha e, de uma hora para outra, assumem novas identidades.

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Tudo isso acontece em menos de 20 minutos e, nesse tempo, o filme já passou por pelo menos três tons diferentes —o que cansa um pouco. O início, por exemplo, remete a James Bond, antecipando a chegada de Gru ao evento em cenas que destacam a viagem do seu carrão pela estrada montanhosa.

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Em seguida, a continuação vira uma comédia adolescente, com o embate dos vilões —cheios de poderes e armas tecnológicas— na esteira de uma premiação. O prólogo só termina na casa de Gru, quando ele chega para o café da manhã e o filme apresenta ao público Gru Jr., seu filho recém-nascido. A cena toda transcorre como um comercial de margarina para crianças pequenas.

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Até aí nada de novo para os filmes, com exceção talvez do rebento. Desde o primeiro “Minions“, de 2015, “Meu Malvado Favorito” existe a serviço da hiperatividade e adota comédias de ritmo acelerado. A evolução da história se confunde com a sucessão de piadas, que buscam novidades para atirar na tela.

Dessa vez, a grande promessa são os megaminions. Eles são cinco indivíduos da tropa de comparsas amarelos de Gru, que ganham poderes de uma máquina da agência antivilões para combater o crime. Por serem minions, o plano dá errado, e eles mais alimentam o caos que salvam o dia.

Mas o filme demora para chegar nos megaminions, até porque eles são uma das quatro tramas da continuação. Além deles, o público acompanha Gru, que precisa cometer um roubo com uma garota para proteger a sua identidade; a família do protagonista, que tenta conviver com as novas vidas; e do vilão, Maxime Le Mal, em seus esforços de vingança.

O desafio de “Meu Malvado Favorito 4” está no equilíbrio frágil desse malabarismo estranho. Nada se conecta direito e o desfecho inventa um clímax preguiçoso nas novas responsabilidades de Gru como pai. Enquanto o conflito final com Maxime não acontece, o longa inventa cenários e acha comédia na bagunça —quase sempre pelos minions.

Ou seja, a continuação cumpre com a rotina pré-estabelecida e aperfeiçoada nos outros filmes da série. Desta vez, a execução pelo menos é um pouco melhor que a de “Meu Malvado Favorito 3“, graças a uma ou outra cena de humor paspalhão.

Algumas das piadas recorrentes também mantêm a história no eixo e a impedem de se perder em episódios distantes, como no terceiro capítulo. Um dos minions fica preso em uma máquina de salgadinhos, por exemplo, e o filme acha formas de rir do seu isolamento no aparelho.

Mas “Meu Malvado Favorito 4” ainda sofre com a falta de propósito, um problema com raiz na contradição dos personagens com o sucesso da série. Em entrevistas, o diretor do filme, Chris Renaud, disse que a produção estabelece de vez que os personagens não envelhecem.

Ele comparou a decisão com a de “Os Simpsons” e, como na série criada por Matt Groening, a jogada tem gosto de raciocínio de marketing. Além de ajudar a vender produtos para a criançada, suspender o crescimento dos personagens também interrompe a sua evolução na história.

O que é uma péssima ideia para a família de Gru, que até o quarto capítulo ainda mantinha essa progressão em vista. Desde o original de 2010, o protagonista deixou de ser vilão, adotou três filhas, se casou, virou agente secreto, foi demitido, passou por crises e até mesmo descobriu um irmão gêmeo e rico. Até a sua origem foi contada no segundo “Minions”.

Em “Meu Malvado Favorito 4”, porém, Gru segue a mesma pessoa. A sua família também —as crianças não crescem um centímetro. O filme inventa um drama com Gru Jr., que faz cara feia para o pai, mas isso é insuficiente.

Depois de achar conforto com a rotina, a série agora tem o desafio de evitar o conformismo com os seus personagens. O quarto capítulo implora por isso, mas fica a ver navios. A falta de tensão pode aborrecer os pequenos, mesmo com tanta coisa acontecendo na tela.

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