Uma ala da União Brasil ainda resiste a apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela reeleição à Prefeitura de São Paulo e considera respaldar a candidatura do influenciador, empresário e ex-coach Pablo Marçal (PRTB).
O racha no partido ocorre mesmo após Nunes ter anunciado, na semana passada, o apoio da legenda ao nome do ex-chefe da Rota Ricardo Mello Araújo (PL) como vice na chapa do emedebista.
Além do incômodo com o nome do vice, que agregaria pouco à chapa na visão de um grupo do partido, outros fatores geram resistências na União Brasil à aliança com Nunes.
Segundo a Folha apurou, integrantes da cúpula nacional do partido gostariam que Nunes se comprometesse ou ao menos sinalizasse alinhamento com o projeto nacional da legenda para 2026. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), por exemplo, é pré-candidato à Presidência. O prefeito e o MDB, no entanto, não fizeram o gesto.
Haveria ainda na União Brasil a demanda por mais espaço na prefeitura no ano que vem, o que também não teria sido garantido. O que ficou acertado é que o PL, partido de Mello Araújo, fechou um acordo para apoiar a União Brasil na eleição para a Mesa Diretora da Câmara Municipal em 2025. Integrantes da cúpula nacional do partido dizem que isso pode não ser suficiente para manter o apoio a Nunes.
Uma parte da legenda ainda avalia que há chances de a candidatura do prefeito desidratar, apesar de ele aparecer na liderança das pesquisas de intenção de voto.
No último Datafolha, divulgado em 31 de maio, Nunes tinha 23% das intenções de voto, empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (PSOL), com 24%. Já Marçal tinha entre 7% e 9% das intenções de voto, dependendo do cenário pesquisado. E o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP), pré-candidato do partido à capital paulista, aparecia com 4%. O apresentador José Luiz Datena (PSDB) tinha 8%.
Pesquisa Quaest divulgada na quinta-feira (27) mostrou um empate técnico na liderança, diante da margem de erro de três pontos para mais ou para menos: Nunes com 22%, Boulos com 21% e Datena com 17% (a seguir aparecia Marçal, com 10%, apenas numericamente à frente de Tabata, com 6%).
Na leitura de um integrante da União Brasil, Marçal ainda pode ter a capacidade de atrair eleitores de direita que votariam em Nunes. Isso embora o emedebista tenha aceitado o ex-comandante da Rota como seu vice justamente para tentar cooptar uma parte desse eleitorado.
Na semana passada, Nunes anunciou o nome do seu vice durante um evento em São Paulo. O presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), que resistia a apoiar Mello Araújo pela avaliação de que ele agregaria pouco à campanha, compareceu ao anúncio.
Mello Araújo foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nunes e uma parte de sua campanha resistiam a aceitá-lo pelo temor de que ele fosse considerado radical e acabasse por afastar uma outra parcela de seus eleitores que rechaçam Bolsonaro.
Aliados do prefeito buscam encontrar o meio-termo entre não perder votos da direita sem afastar os demais que rejeitam o ex-presidente.
De acordo com o Datafolha, 61% da população paulistana afirma não votar de forma alguma em um candidato apoiado por Bolsonaro.
Membros da União Brasil acreditam que Datena ainda pode desistir da candidatura, como já fez em outras ocasiões, por isso trabalham com o ex-coach como segunda opção.
O cálculo é que o percentual de intenções de voto no influenciador, somado ao que tem Kim Kataguiri, poderia torná-lo competitivo. Mesmo a ala da União Brasil que discorda dessa leitura, e resiste a apoiar Marçal, admite ser essa uma hipótese ainda na mesa do partido.
O avanço das negociações e eventual debandada do apoio a Nunes dependerá da performance do ex-coach nas próximas pesquisas e de conversas entre dirigentes partidários.
Marçal tem dito em conversas reservadas querer ser prefeito para sair candidato à Presidência em 2026. Essa possibilidade tem mobilizado aliados de Bolsonaro, que temem pela popularidade do influenciador.
Como mostrou a Folha, o próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tem atuado para convencer Marçal a desistir da disputa e tentar se eleger ao Senado em 2026. A articulação acabaria tanto com a ameaça a Nunes como a quem Bolsonaro chancelar para ser candidato no próximo pleito nacional.
Um integrante da União Brasil avalia que, caso o partido se aproxime de Marçal, também poderia ser mais fácil construir um acordo para que ele não breque as intenções de Caiado de ser candidato ou que ele se filie ao partido posteriormente.
Dirigentes do MDB e outros partidos que apoiam o prefeito, como o PP, veem com ceticismo essa possibilidade e apostam que a União manterá o apoio ao emedebista.
Como mostrou a Folha, a pré-campanha de Nunes planeja um freio de arrumação para prender de vez o voto dos eleitores de Bolsonaro.